O Dr. Dráuzio Varella é mais uma personalidade de peso a dar suporte à visão alternativa de nutrição e saúde: a de que a ênfase descabida sobre a redução da gordura na dieta (cujos benefícios teóricos já foram refutados) teve como consequência não antecipado o consumo excessivo de carboidratos, levando à atual epidemia de obesidade, diabetes e síndrome metabólica.
Em 2012 já divulguei um texto de sua autoria (veja aqui).
Hoje ele publicou mais um excelente texto em sua coluna na Revista Carta Capital:
http://www.cartacapital.com.br/revista/776/gordura-na-dieta-840.html
Saúde
Saúde
Gordura na dieta
A relação entre carnes vermelhas, colesterol e doenças cardíacas não é definitiva. Os vilões podem ser os carboidratos
por Drauzio Varella — publicado 27/11/2013 06:33
Arte: Milena Branco
Gordura na dieta virou pecado capital. Os xiitas da alimentação saudável consideram fraqueza de caráter ir à churrascaria.
A relação entre colesterol, proporção de gordura animal nas refeições e ataques cardíacos foi estabelecida a partir de dois inquéritos epidemiológicos:Seven CountriesStudy e Framingham Study.
A relação entre colesterol, proporção de gordura animal nas refeições e ataques cardíacos foi estabelecida a partir de dois inquéritos epidemiológicos:Seven CountriesStudy e Framingham Study.
A partir dos anos 1970, os serviços de saúde norte-americanos adotaram a política de reduzir o consumo de gorduras para, no máximo, 30% das calorias diárias, e o de gordura animal (saturada) para 10%, recomendações em seguida adotadas no mundo inteiro.
Nenhum estudo mais recente, no entanto, foi capaz de demonstrar a existência da associação entre o consumo de carne vermelha e o risco de doenças cardiovasculares. Sabemos apenas que as carnes processadas podem aumentar a probabilidade de ataques cardíacos e diabetes, relação causal atribuída à presença de nitratos e de teores exagerados de sódio nesses alimentos.
Nenhum estudo mais recente, no entanto, foi capaz de demonstrar a existência da associação entre o consumo de carne vermelha e o risco de doenças cardiovasculares. Sabemos apenas que as carnes processadas podem aumentar a probabilidade de ataques cardíacos e diabetes, relação causal atribuída à presença de nitratos e de teores exagerados de sódio nesses alimentos.
A guerra à gordura animal teve consequências inesperadas. Nos últimos 30 anos, a população americana reduziu de 40% para 30% a proporção de calorias ingeridas sob a forma de gordura, justamente o período em que se alastrou pelo país a epidemia de obesidade. Como explicar?
As evidências apontam os açúcares como fatores de risco para a instalação da chamadasíndrome metabólica, combinação traiçoeira de hiperglicemia, hipertensão arterial, aumento de triglicérides, diminuição da fração HDL do colesterol e aumento da circunferência abdominal.
Em artigo recém-publicado no British Medical Journal, Aseem Malhotra, do Croydon University Hospital, faz o seguinte comentário: “Hoje, dois terços das pessoas admitidas em hospitais com o diagnóstico de infarto do miocárdio apresentam a síndrome metabólica.
Mas 75% desses pacientes têm níveis de colesterol total absolutamente normais. Talvez o colesterol não seja o verdadeiro problema”.
O autor prossegue: “Apesar da crença geral de que o colesterol elevado represente fator de risco para doença coronariana, diversos estudos populacionais independentes demonstraram que níveis baixos de colesterol total estão associados ao aumento da mortalidade geral e da mortalidade por eventos cardiovasculares, indicando que colesterol alto não é fator de risco para a população saudável”.
O autor prossegue: “Apesar da crença geral de que o colesterol elevado represente fator de risco para doença coronariana, diversos estudos populacionais independentes demonstraram que níveis baixos de colesterol total estão associados ao aumento da mortalidade geral e da mortalidade por eventos cardiovasculares, indicando que colesterol alto não é fator de risco para a população saudável”.
Trouxe esse tema para a coluna, caro leitor, para ilustrar a reviravolta na literatura sobre o colesterol. Cada vez mais pesquisadores de renome contestam a conduta de reduzir os níveis de colesterol com medicamentos. A argumentação é consistente: não está demonstrado que essa estratégia faça cair a mortalidade por doenças cardiovasculares em pessoas saudáveis de qualquer idade.